12 de jul. de 2009

O riso do medo ...


Na teologia medieval, o riso é reconhecido como próprio do homem, mas em geral censurado sob o argumento de que Jesus não teria rido em sua passagem pela vida terrena. O ser humano é ambíguo: é o único animal capaz de rir, e neste sentido, superior aos demais animais; mas é inferior em relação à divindade – que não ri. Nessa perspectiva, o humor tende a profanar o sagrado. NO FUNDO DO NOSSO SER, RIMOS DOS NOSSOS MEDOS E DAS NOSSAS CRENÇAS.
Durante os séculos, o riso admitiu diversas formas de atuação e interpretação, funcionando como uma espécie de armadura, defesa social... Mas não seria também uma espécie de defesa/ataque da alma? Talvez sim, porque nem sempre quando sorrimos como forma de expressão exterior, deixamos transparecer (demonstramos) todos os medos, crenças, anseios, dores e gritos que se escondem, adentram, embrenham-se dentro de nossos mais temidos e profundos pensamentos, que por vezes, nos atormentam interiormente! Sim, atormentam constantemente! Talvez esteja aí também o grande papel do humor - questionar as verdades absolutas, as nossas próprias verdades, os dogmas e as autoridades que as encarnam. E, por esse mesmo motivo, o riso traz sempre dualidades, alegria e tristeza, alívio e dor, coragem e medo, amor e ódio.
Todas as vezes que reflito sobre essa capacidade reconhecidamente peculiar dos seres humanos, lembro de um animal bem interessante - a hiena. Isso porque a hiena sempre teve uma reputação terrível. Acreditava-se que a sua gargalhada durante a noite seria a transcrição da risada de um homem colocando armadilhas fatais aos viajantes que passavam. Acreditava-se também que se a sombra de uma hiena caísse sobre a de um cão, este ficaria mudo e paralisado. Diziam que a hiena era a encarnação de espíritos de feiticeiros. É um animal sem quaisquer atrativos, tendo os dentes mais afiados de todos os carnívoros terrestres, suficientemente fortes para triturarem ossos. Sendo comedora de cadáveres, ela limpa o terreno, devorando todos os corpos que encontra no caminho.
Pois é, talvez essa minha lembrança seja inconscientemente a tradução dessa característica devoradora da hiena, com seus grandes maxilares e seus largos e afiados dentes, capazes de dar uma “gargalhada” que exterioriza toda a expressão e ambiguidades que o riso provoca. Por isso, façamos como as hienas, coloquemos para fora, expulsemos, com um belo e lindo sorriso, todas as nossas alegrias, medos, vontades, pensamentos, desejos, dores..............

Por:Leandro Chamma - 02/07/2009